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sábado, 20 de setembro de 2014

O "palito" dos Cerejais (III)

Este episódio ocorreu quando eu tinha seis ou sete anos de vida e ficou para sempre retido algures nos recônditos da minha memória. Veio ultimamente à superfície, com mais frequência e intensidade, devido às notícias propagadas em todos os órgãos de comunicação social acerca dos acontecimentos relacionados com um homem, também natural de Vilarinho da Castanheira, chamado Ismael Vicente, que esfaqueou mortalmente uma mulher e feriu outra com gravidade. Ou, ainda, do caso de Manuel Baltazar mais conhecido por Manuel “Palito” e que matou a tiro a ex-sogra e feriu gravemente a ex-mulher e a própria filha.
Em ambos os casos os homicidas andaram “a monte” fugidos à justiça durante vários dias. 
Não pude, em consequência, deixar de os relacionar com aquela figura sinistra que me assustou lá no "monte" dos Cerejais e a quem o meu avô deu (ou teve de dar?) de comer.

É por tudo isto que, hoje em dia, sei dar valor ao sítio onde nasci, onde fui feliz em criança e me deu a força e os conhecimentos necessários para me poder expandir para o mundo.
Agradeço, especialmente, ao meu avô Alfredo tudo aquilo que me deu e ensinou nos primeiros anos da minha vida. Este acontecimento é apenas um exemplo mas a forma como ele sempre me incentivou e motivou para o saber ser e para o saber fazer é aquilo que mais me marcou.
Guardo ainda a sua imagem dessa época que me parecia ser a de um homem velho, algo rezingão, mas sempre atento e desperto para a vida e para o saber.
Parecia-me velho, nos seus cinquenta oito ou cinquenta e nove anos, devido à sua imagem austera, de rosto enrugado, sofrido e seco que guardei na minha memória com os meus pequenos olhinhos e... assim permaneceu ao longo dos anos.
Algo rezingão, porque me pareceu sempre truculento com a vida, com as pessoas e com ele próprio talvez em consequência dos graves problemas que ainda o atormentavam desde que teve de fugir de Paris, durante a II guerra Mundial, completamente desprovido de qualquer bem material aí adquirido durante muitos anos de trabalho.
Desperto para a vida porque, apesar de só ter como habilitações académicas a 4ª classe do ensino primário, era detentor de uma cultura vastíssima, adquirida através da experiência de vida (sobretudo em Lille e em Paris) e da leitura de tudo que lhe fosse parar à mão. Aliado a tudo isso tinha ainda uma personalidade forte e uma fibra enorme.

As memórias da minha infância estão povoadas de histórias, umas verdadeiras, outras meras fantasias, fruto da imaginação e das mentalidades da época. No entanto o meu avô está lá! Sempre presente. Quando teve de partir deixou-me uma imensa tristeza, hoje uma terna e eterna saudade, porque ainda tinha muito para me ensinar e muito para comigo conversar...


FIM


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