Pretendo, despretensiosamente, divulgar aqui ideias, pensamentos, acontecimentos, imagens, músicas, vídeos e tudo aquilo que considere interessante, sem ferir susceptibilidades.

Falando de tudo e de nada... correndo o risco de falar demais para nada!


quarta-feira, 26 de março de 2014

Passeio do Grupo 5.com(e) à Serra da Freita (III)

Local das pedras parideiras
Avançamos talvez uns dois quilómetros, a caminho do local das famosas pedras parideiras, passando ao lado de uma pitoresca aldeia chamada Albergaria da Serra.
Mais para meter conversa que para pedir informação (a placa não deixava dúvidas), interpelamos um habitante local que nos apareceu ao caminho e que nos confirmou: Vão bem. As pedras parideiras são já ali. Mas nesta época não estão a parir nada.
Tal como a maior parte dos consultores de empresas, este aldeão não nos disse nada que já não soubéssemos. Mas é sempre reconfortante encontrar alguém que nos garanta que estamos no caminho certo e que sabemos como são as coisas. E lá fomos nós, agora muito mais serenos e confiantes, a caminho do sítio das pedras parideiras.
Daqui observa-se, sob outro ângulo, a frecha da Mizarela em toda a sua plenitude e imponência, em plácida e exuberante nudez da fenda e das rochas (granito e xisto) que a marginam. As águas revoltas deslizam em tropel imparável, descendo em turbilhão pelas descarnadas rochas da fenda, (ou pela fenda das rochas?) apressadas e ofegantes, ansiosas por chegar ao êxtase e à calmaria, no sopé do monte, onde, enfim, podem repousar e retemperar energias após tão alucinante viagem (que é que isto me faz lembrar?).
Voltemos às pedras parideiras, que são um fenómeno geológico raríssimo. No caso da serra da Freita são mesmo um caso único no mundo no que respeita a este tipo de granito. 
Cientificamente o fenómeno é assim:trata-se de uns afloramentos rochosos onde os
componentes da rocha se agrupam em vez de se distribuírem de forma mais ou menos uniforme por toda a rocha, formando nódulos que se destacam claramente pela sua cor escura. Ao fim de milhares (ou milhões) de anos a erosão, as condições de tempo (diferença térmicas e humidade) fazem estalar a rocha, que larga os seus rebentos. Daí a designação de pedras parideiras. O período de gestação é muito longo, o parto é muito demorado.
Por aqui os paparazzi são muitos, embora não se escondam atrás das árvores, nem precisem de binóculos para ver ao longe, nem de escadas para se sobreporem às sebes. Tal como os outros, estão sempre na expectativa de ver a rocha parir (os outros ficam à espera que a vedeta tire o soutien e deixe à mostra os seios nus, momento ansiado e que justifica tantas solitárias e desesperantes horas de espera, mas que afinal é a fonte dos seus proventos). Mas ninguém pode apressar este parto e transformá-lo num acontecimento social, com direito a fotos e filmes que certamente iriam receber muitos likes no facebook.
Mesmo à face da estrada vemos os afloramentos graníticos (não estou a inventar nem a fazer literatura. É assim que reza o panfleto), prenhes de pedras parideiras, na maior parte
dos casos com os partos concluídos e com os filhotes já muito longe da casa paterna. Mas ainda há pedras com a gestação incompleta e sem data marcada para o parto, apesar dos meios tecnológicos de que hoje se dispõe para avaliar a data destes eventos. Neste aspecto, como em muitos outros, a natureza não se compadece com a pressa ou com os desejos dos homens. Há-de ser quando Deus quiser, dirão os crentes.
Mas para outras coisas (como a larica) a natureza pode apressar o “parto”. E para nos lembrar as regras lá estava o co-piloto Mota, novamente a carregar a fundo no “acelerador”: “Temos de nos despachar. É quase uma hora e já devíamos estar a chegar ao restaurante.”
“Ok Mota. Espera um pouco que já vamos”. E, sem pressas, ainda nos demoramos o tempo suficiente para comprovar que o Centro de Interpretação – Casa das Pedras Parideiras é
uma estrutura muito bem organizada e dotada em meios técnicos e humanos, merecedora de todo o apoio e da gratidão de quem gosta de conhecer estes interessantes fenómenos com o máximo de rigor e cientificidade. Aliás, as próprias rochas podem ser visitadas em excelentes condições de conforto, seguindo por uma passerelle tipo passadiço, em madeira, que circunda a principal afloração e permite ver e tocar directamente as rochas. Mas posso garantir que será infrutífera qualquer tentativa de provocar um parto. 
As entidades locais e a Arouca Geopark merecem os parabéns.
(Continua...)

Sem comentários:

Enviar um comentário