Pretendo, despretensiosamente, divulgar aqui ideias, pensamentos, acontecimentos, imagens, músicas, vídeos e tudo aquilo que considere interessante, sem ferir susceptibilidades.

Falando de tudo e de nada... correndo o risco de falar demais para nada!


terça-feira, 30 de julho de 2013

Faz hoje um ano e um mês que...

Tudo era diferente. 
Estava muito longe de tudo e de quase todos. 
espaço onde eu escrevia - o RAXAlebre - tinha cumprido, de certa forma, a função para o qual tinha sido criado pois já tinha feito o registo das mais significativas e marcantes passagens da minha vida profissional e dos contextos em que foram ocorrendo. 
Também já tinha feito, de forma simples e retrospectiva, uma síntese das razões pelas quais eu sempre considerei que era (e fui) professor por acaso e que estava no ocaso de o ser.
A escola também já nada me dizia e as velhas tertúlias (que saudades Carlos Alberto!) já não eram a mesma coisa. 

Por tudo isso apeteceu-me então criar outro espaço. 
E... dessa vontade, nasceu o Vyla Penedo no dia 30 de Junho de 2012, sobretudo para partilhar um pouco de mim e estabelecer pontes com os amigos que foram ficando para trás. 
Foi, aliás, por sugestão de alguns (que nunca se dignaram a fazer um único comentário) que resolvi abrir mais este blogue abrindo também a alma ao mundo. 

Aqui deixei (e deixo) vaguear a imaginação, expondo as minhas ideias e convicções, confessando sentimentos e até fazendo (ou tentando fazer) algumas chalaças. Procurei fazer deste espaço um espelho de mim próprio. Nunca o consegui inteiramente. Se já na vida real tentamos varrer os defeitos para baixo do tapete, no virtual parecemos um poço de virtudes (e só nas entrelinhas e nos silêncios é que nos revelamos inteiramente).

Tudo isto também para dizer que nunca imaginei que o meu blogue completaria todo este tempo de existência. 

E, correndo o risco de que este pequeno orgulho seja tomado como arrogância ou excesso de vaidade, quero afirmar que também nunca me passou pela cabeça que teria 10000 visualizações ao fim de 13 meses que hoje se completam... 

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Joan Baez, Diamonds and Rust - Live, 1975

Joan Baez é compositora e intérprete de música popular americana desde o início da década de 60 e uma das minhas favoritas durante as décadas seguintes. 
Baez é a irmã mais velha de Mimi Farinia, com quem partilhou a paixão pela composição musical e pela intervenção política. 
A carreira profissional de Baez começou em 1959 no "Newport Folk Festival", onde, com 18 anos, foi a grande revelação. Ela lançou pela Vanguard Records no ano seguinte seu álbum de estreia, "Joan Baez", uma colecção de baladas tradicionais, chamando a atenção pela qualidade do reportório e pelo seu talento no violão acústico, aliado a sua bela voz de soprano. O álbum seguinte, "Joan Baez, Vol. 2", foi lançado em 1961. Ganhou um disco de ouro, o mesmo acontecendo com "Joan Baez in Concert", de 1962. Com apresentações regulares, Joan Baez tornou-se um fenómeno artístico. Em 1963, já era considerada uma das cantoras mais populares dos Estados Unidos. Em 1964 lança o disco Joan Baez/5, incorporando neste trabalho uma selecção de populares canções folk dos Estados Unidos e da América Latina, com destaque para interpretações de composições dos músicos brasileiros Villa-Lobos e Zé do Norte. Além de folk tradicional e canções de protesto, ajudou a promover Bob Dylan, impressionada com suas composições iniciais e incluindo várias delas no seu reportório. Tornaram-se namorados por uns tempo, mas o relacionamento acabou em 1965. Entre seus sucessos históricos desta época, podem ser citados "We shall overcome", "With God on our side", "All my trials", além de outros...

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Júlio Iglésias - Un canto a Galicia

Deixo aqui também este vídeo em homenagem às 80 vítimas mortais do acidente ferroviário de Santiago de Compostela.

Que aconteceu assim  :-(

A estranha justiça inglesa :-)

Nota: Deixo aqui hoje um pequeno episódio (verdadeiro) que me foi enviado 
por email  a propósito da justiça feita a um ministro inglês.

Em 2003, o deputado inglês Chris Huhne foi apanhado num radar em alta velocidade. 
Na época, a então mulher dele, Vicky Price, assumiu a culpa.   
O tempo passou e aquele deputado passou a Ministro da Energia, só que o seu casamento acabou. Vicky Price decide vingar-se e conta a história à imprensa. 
Como é na Inglaterra, Chris Huhne, Ministro, demite-se primeiro do ministério e depois do Parlamento. 

ACABOU A HISTORIA?
Qual quê! Estamos em Inglaterra...  E em Inglaterra é crime mentir à Justiça.
Assim, essa mesma Justiça funcionou e sentenciou o casal envolvido na fraude do radar em 8 meses de cadeia para cada um e uma multa de 120 mil libras, (+-100 mil euros). 

Segredo de Justiça?
Nem pensar, julgamento aberto ao público e à imprensa.
Quem quis, viu e ouviu. 

Segurança nacional? 
Nem pensar, infractor é infractor.
Privilégio porque é político? Nada!

E o que disse o Primeiro Ministro David Cameron quando soube da condenação do seu ex-ministro?
"É uma conspiração dos media para denegrir a imagem do meu governo? " ou "É um atentado contra o meu bom nome e dos meus Ministros"? 
Errado. Esqueçam, nada disso!
O que disse o Primeiro Ministro David Cameron  não foi acerca do seu ex-ministro foi sobre o funcionamento da Justiça. 
E o que disse foi: "É bom que todos saibam que ninguém, por mais alto e poderoso que seja, está fora do braço da Lei." 

Estes ingleses monárquicos são mesmo um bando de atrasados, não são?

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Conto: Neto de um emigrante em Paris! (XXIX)

Zeferino ao chegar ao minúsculo quarto tomou mais um duche antes de se deitar. Esteve acordado durante bastante tempo e com a mente a divagar de lembrança em lembrança. Estranhamente, estar deitado naquele quarto parecia fazer ressuscitar com mais intensidade antigas memórias e velhas recordações. Algumas delas eram bem agradáveis, outras nem por isso pois traziam-lhe laivos de tristeza. A Lua estava tão brilhante que teve necessidade de apagar a luz do candeeiro e estender-se de novo na cama mas agora virado para a janela por onde o luar irrompia, lançando longas sombras que impregnavam as paredes do quarto de tons de cinza e prata.
Depois levantou-se inquieto e abriu a mochila de onde retirou uma esferográfica e o seu bloco de notas. Sentou-se na borda da cama, acendeu de novo o candeeiro e escreveu:
Bordéus, 20 de Abril de 1971
Se hoje eu falasse de saudade, falaria do teu cabelo macio e perfumado, desse teu aroma que me deixa quase embriagado, lembrar-me-ia da tua pele branca e macia e, também do teu sorriso tranquilo e franco.
Se hoje eu escrevesse sobre saudade, quem sabe, agradeceria aos céus por me terem lembrado de ti. Se hoje eu pensasse em saudade, não me lembraria só dos teus inflamados beijos, mas com certeza sofreria também lembrando-me dos teus toques, das tuas mãos e daquelas conversas longas e do calor do teu abraço, do quanto é bom ter teu corpo, mesmo de modo fugaz, no meu abraço.
Se hoje, só por hoje, eu sentisse saudade, não só me lembraria da tua face bonita, do teu corpo esguio e do teu contorno tão feminino, como também da tentação que é sempre chegar tão perto, sentir teu cheiro e não te poder tocar, apenas e sempre admirar.
Se por agora, neste momento, eu não sentisse saudade, talvez nem tivesse do que falar e muito menos sobre o que escrever, ah, mas que tolo sou, que não me permito a este sentimento, tão vazio de vaidade, tão vazio de orgulho e tão cheio de quase pranto, pobre de mim, com tantos motivos para viver e aqui isolado neste quarto a quase falecer de... saudade!

Depois, Zeferino, já mais calmo e relaxado, adormeceu com o bloco de notas ainda agarrado e aberto na página onde tinha acabado de escrever. Não era sua intenção adormecer naquele momento, mas acabou por mergulhar numa espécie de sono profundo como há muito não acontecia, preenchido pela sensação da presença de alguém muito próximo.
Quando despertou, os ponteiros do relógio indicavam as 5 horas e 30 minutos. A luz do quarto alterara-se.

Esfregou os olhos, tomou banho, pegou na pesada mochila, ajustou-a bem sobre os ombros e saiu… 
(continua...)

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Aposentação antecipada! A razão do meu "contentamento descontente"... (III)

Finalmente, e para terminar este capítulo, quero dizer que continuo a acreditar nas pessoas. Não nas pessoas todas que comigo trabalharam. Não sou tão ingénuo a esse ponto. Mas que há boa gente lá isso há! 
Estou também convencido que mesmo as outras, aquelas em que não acredito, ou em que deixei de acreditar e que comigo se cruzaram, fizeram-no por um motivo qualquer e desempenharam um papel importante para o meu enriquecimento pessoal.
Hoje prefiro recordar apenas algumas das pessoas que, em momentos importantes deste percurso, marcaram positivamente a sua passagem. 
Não vou falar de todas por motivos óbvios. Mencionarei apenas algumas daquelas que: pela forma como foram corrigindo os meus defeitos, pelo seu exemplo, pela sua prática e pela sua intervenção oportuna me serviram de modelo e contribuíram decisivamente para o meu bem-estar na profissão e para que me tornasse cada vez melhor enquanto pessoa e profissional.

A primeira dessas pessoas foi a Albertina S. Rodrigues que teve um papel curioso, mas determinante, no meu ingresso nesta carreira. Estou mesmo convencido que se ela não se tivesse disponibilizado, nesse dia 22 de Novembro de 1978, para alterar o seu horário recebendo uma turma que me estava destinada, eu nunca teria aceitado iniciar funções nesse dia. 
De facto, quando constatei que no horário que estavam a propor me tinha sido atribuída uma turma do 11º ano de escolaridade de Geologia, fiz saber que não podia aceitar o lugar, assumindo que não estava preparado sob o ponto de vista científico e pedagógico para leccionar Geologia a esse nível de ensino.
O presidente do Conselho Directivo ainda procurou argumentar mas, vendo a minha inflexível determinação, procurou resolver o problema de outra forma mandando chamar uma das professoras do 11º B (Biologia e Geologia) que leccionava geologia a outras turmas. Essa colega era a Albertina que, confrontada com o problema, serenamente, depois de analisar e ponderar muito bem, apresentou uma proposta de solução que passava por ceder uma das suas turmas de Ciências da Natureza do 7º ano e assumir, ela própria, a turma do 11º que me estava destinada. E pronto! Resolveu-se o problema e eu aceitei o lugar!

No ano seguinte, já na Escola C+S de Carrazeda de Ansiães, um dos colegas que mais me marcou e de quem me tornei amigo foi, sem dúvida, o Manuel Freire Vilares. Pela sua atitude e pela sua postura profissional tornou-se, para mim, se calhar sem ele o saber, uma referência profissional. Para ele o foco da aprendizagem estava no aluno e no seu contexto. O saber/fazer e o saber/ser eram para a maioria dos alunos daquela região e daquele tempo muito mais importantes para a sua vida futura do que simplesmente os conteúdos teóricos das diferentes disciplinas. As viagens, que juntos fazíamos, diariamente, no meu “bolinhas” e/ou na sua Citroen Dyane, de Vila Flor para Carrazeda de Ansiães, eram aulas de pedagogia pura que eu ouvia com toda a atenção e interesse.

Na segunda metade da década de 80 tive o privilégio de trabalhar com um grande profissional, o Mário Sanches.
Já eramos amigos e vizinhos desde a infância e adolescência pois vivíamos na mesma rua. Juntos jogávamos à bola e “hóquei” (utilizando os troncos das couves fazendo de stick e papéis de cartão embrulhados em meias de nylon, fazendo de bola). Aproveitávamos ainda a proximidade da muralha da Vila e do Arco D. Dinis para brincarmos aos cowboys e aos índios e a Quinta da Paz para comermos saborosos melões alheios. :-)
Depois, cada um seguiu o seu percurso até que nos voltámos a juntar na mesma escola, que curiosamente foi construída num terreno situado a 100 metros de distância da nossa rua e do Largo da Fonte Romana, palco central das nossas brincadeiras.
Aí nas novas instalações da Escola Secundária de Vila Flor e como profissional, o Mário mostrou-me que é possível ter sempre em vista objectivos bem precisos e como se deve lutar até se conseguirem concretizar. Ele trabalhava acima da média de todos os outros e a sua ambição, o seu empenho, o seu espírito empreendedor e a sua vontade de querer sempre um pouco mais foram, sem qualquer dúvida, para mim, um exemplo e um modelo a seguir.

Em meados dos anos 90, vim para a EB 2/3 de Valadares implementar o Projecto o “Direito à Diferença”. Não o teria conseguido da mesma maneira se não tivesse encontrado uma colega excepcional, a Manuela Matos, que era a Directora de Turma onde os alunos portadores de deficiência mental foram inseridos.
A sua entrega e disponibilidade foram desde logo fundamentais para que se criassem na escola as condições necessárias à implementação do Currículo Alternativo desses alunos. Por sua vez a sua enorme sensibilidade e dedicação foram determinantes para tornar possível a criação dos contextos fundamentais para uma melhor integração na escola e posteriormente na comunidade onde, felizmente, estão integrados e exercem actividades não segregadoras.

Para o fim deixei a Amélia Lopes. Os últimos são os primeiros. Foi a minha primeira Delegada de Grupo e aquela que viria, passados alguns anos, a tornar-se minha mulher, companheira e amiga. A ela devo muito daquilo que sou, ou fui, em termos profissionais. Com ela aprendi mais Biologia e Pedagogia do que em toda a minha formação académica. Ahh! E Anatomia também... :-) Para além do amor, da atenção, da compreensão e do incentivo manifestados ao longo de uma vida, em todos os contextos profissionais e pessoais.
É com ela que continuarei a viagem, seja ela qual for. 
Juntos vamos desfrutar a vida de uma outra forma, porque depois de tantos anos de trabalho, de tantas preocupações, dos falhanços e sucessos acumulados e, sobretudo, dos filhos criados, sabe bem olhar para o oceano atlântico sem pensar em mais nada, assistir ao pôr-do-sol, seguir o voo das gaivotas, ou ler um livro confortavelmente instalado na esplanada de um bar de praia, enquanto se saboreia uma cerveja fresquinha...

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Aposentação antecipada! A razão do meu "contentamento descontente"... (II)

Podia agora deixar aqui algumas palavras sobre o bem que me sinto aqui em casa. 
Podia escrever sobre os planos que tenho para o futuro. 
Podia ainda dizer o quanto pequenas e inesperadas coisinhas  me fazem sentir bem.
Podia falar nos momentos de desassossego e de indignação que também vou tento, em alternância com os anteriores.  
Podia (e prometo que vou tentar fazê-lo oportunamente) deixar aqui algo sobre o meu dia-a-dia e o quanto os meus pensamentos se conseguem alinhar, por forma a conseguir (ou tentar) superar-me.
Podia, se quisesse olhar para trás, procurar encontrar lacunas e falhas próprias. 
Podia, se pudesse parar e rever toda a minha vida profissional num só andamento, preocupar-me exclusivamente com o importante e dispensaria enfim o dispensável.
Podia, se pudesse regressar uns anos atrás, não me ter fechado sobre mim mesmo, na segurança do caminho percorrido até aí...

Se calhar podia. Mas seria tudo isso o mais importante neste momento?

Acho que não. Julgo que hoje é o tempo de fazer, de forma o mais pragmática possível, outro tipo de reflexões e expressar-me sobre outros aspectos da vida que considero mais oportunos e interessantes.

Por exemplo, dizer que acredito que nada acontece por acaso e que somos nós que fazemos e construímos o nosso destino. 
Acredito que de alguma forma, directa ou indirectamente, num passado mais ou menos longínquo, fomos nós que contribuímos para o presente. 
É verdade que estamos condicionados por uma série de factores, internos e externos (entram aqui os Sócrates, os Passos Coelho e tantos outros daqueles que nos desgovernaram), mas podemos sempre agir e/ou reagir de diferentes maneiras e isso é uma escolha, uma decisão nossa. 
Por outro lado, nenhum de nós está isento de lhe acontecer algo mau e a dor que tal provoca não pode ser evitada. Agora cabe-nos a nós decidir se enfrentamos essa dor ou se nos deixamos abandonar ao sofrimento que ela nos causa. É por isso que duas pessoas reagem de forma diferente a uma adversidade. 
Há uma frase, que li algures, de Carlos Drummond Andrade, que define bem a nossa liberdade de escolha mediante as adversidades externas: "a dor é inevitável, o sofrimento é opcional".

Foram alguns destes princípios e algumas destas razões intrínsecas que me "obrigaram" a decidir e a tomar a atitude que tomei, no momento que o fiz, pedindo a aposentação antecipada.


Eu quero acreditar que a verdade, aquela à qual muitas vezes também tento fugir com desculpas vãs, é que a minha vida é a forma como a vivo e depende apenas de mim...

(continua...)

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Aposentação antecipada! A razão do meu "contentamento descontente"... (I)

Imaginem uma viagem feita através do tempo e do espaço, em linha recta e a grande velocidade, desde o dia 22 de Novembro de 1978 até 12 de Julho de 2013!  
Se tal fosse possível sentiriam, com certeza, a sensação que estou a sentir neste momento. Um grande alívio!

O primeiro desses dias corresponde ao meu primeiro dia de trabalho na Escola Secundária de Monção. O segundo corresponde ao último, o dia em que o despacho de aposentação chegou à minha escola actual, EB 2/3 de Valadares.

Naquele longínquo dia (mas aqui tão próximo) comecei com muita garra e predisposição para o trabalho, mesmo tendo plena consciência de que a integração num novo emprego nem sempre é fácil e poderia demorar o seu tempo. No entanto, a ideia de aprender coisas novas e conhecer pessoas e ambientes diferentes era excitante e agradável. Por tudo isso, tentei começar com o pé direito e causar uma boa impressão até porque a motivação estava a altas rotações.
Nesse primeiro dia conheci a escola, o Presidente do Conselho Directivo e as colegas do meu grupo disciplinar procurando familiarizar-me com tudo e com todos. Foi fácil encontrar pessoas dispostas a ajudarem-me e a quem me mostrei totalmente disponível para ouvir com atenção tudo o que me disseram, principalmente sobre horários, regras da escola e do meu grupo disciplinar, hábitos de trabalho e de convívio e tudo o que estava relacionado com as tarefas que iria desempenhar. Foi, sem dúvida, um belo arranque!

Agora estou de saída! Saio de mansinho e imbuído do tal espírito ambíguo de contentamento descontente.
Provavelmente não saio da forma com que sonhei sair mas… saio pelo meu pé, quando e como quis, e com a consciência plena do dever cumprido e de ter feito sempre o melhor que pude.
Saio já! Por vontade própria (apenas e só) por entender que já não tenho condições anímicas para continuar a aturar este sistema educativo e esta escola em que já não me revejo nem acredito.

A minha passagem por esta profissão foi uma longa aprendizagem e uma lição de vida permanente e diária.
Sei que, muitas vezes, só o tempo julgará com objectividade e distância a acção de cada um de nós. Não pretendo, aqui e agora, proceder a uma avaliação exaustiva do meu trabalho ao longo da minha carreira até porque tenho a oportunidade de o vir fazendo no meu outro espaço de dissertação - o RAXALEBRE-, o Blogue em que eu procuro mostrar o professor que fui por acaso e já no ocaso de o ser.
Creio, contudo, que essa postura não colide em nada com o balanço globalmente positivo que faço de mais de trinta e cinco anos de trabalho em algumas das áreas mais específicas e relevantes que fui assumindo e desenvolvendo. Procurei estar permanentemente actualizado com os novos métodos e formatos de ensino e com as novas disciplinas e áreas disciplinares (Biologia/Ciências da Natureza, Hortofloricultura e Criação de Animais, Educação Tecnológica e Educação Especial) que fui assumindo sucessivamente. 
Para me sentir seguro fui frequentando e concluindo novos cursos e novas qualificações profissionais. Fui actualizando os meus conhecimentos procurando, em simultâneo, adaptar-me  a novos conteúdos disciplinares, a nova legislação e a novos equipamentos e softwares. Para isso estive sempre disponível e sempre "ligado".
Tenho consciência de ter contribuído, algumas vezes, nestas últimas duas décadas e num caminho quase solitário para a defesa da Educação Especial e, sobretudo, para a integração plena dos meus alunos portadores de deficiência mental no sistema regular de ensino.
Na defesa dos meus alunos NEE(s) fui intransigente. Arranjei por isso alguns atritos, desinteligências e aborrecimentos pelo caminho mas, enquanto acreditei que esse era o melhor caminho, lutei - com convicção - até ao fim. Procurei fazê-lo com toda a honestidade e empenho. Não estive aqui para fingir e nunca gostei do “nim”. Podia ter aprendido mais cedo a ser mais moderado? Podia, aceito que sim… mas sempre fervi por dentro com a mentira, a hipocrisia e a desonestidade intelectual.

Neste contexto, e ao fim destas três décadas e meia, é perfeitamente natural achar que esta desmotivação seja... natural. Até porque me sinto verdadeiramente injustiçado. Durante décadas tive, agora vou repetir-me... é outro dos meus defeitos :-(, um acordo com o Estado, representado pelo Ministério da Educação, assinado de boa-fé por ambas as partes, que garantia a minha aposentação ao fim de trinta e seis anos de serviço, independente da idade. Posteriormente e de forma unilateral esse mesmo Estado alterou esse contrato permitindo a minha aposentação apenas aos sessenta anos de idade, desde que tivesse os tais 36 anos de serviço. Mais recentemente, ainda no Governo de Sócrates e dentro da febre legislativa que o assolou, alterou-o de novo e mais uma vez, sem a minha assinatura e muito menos o meu consentimento, para os 65 anos de idade. Mais recentemente, e já nesta legislatura, a idade de aposentação passou para os 66 anos!!!
Senti-me enganado pelo próprio Estado, aquele em quem eu sempre confiei e defendi. Perante alguém que é batoteiro, porque não cumpre os contratos que assina e, pelo contrário, impõe novas regras a quem está, como eu, no final de carreira, sem qualquer respeito pelos direitos e compromissos assumidos só me restava tomar a atitude que tomei: pedir a aposentação antecipada com o consequente corte na retribuição mensal.

É o preço que terei de pagar pela minha liberdade e para poder dizer sempre o que sinto e penso…
(continua...)

domingo, 14 de julho de 2013

Estarei a ficar...

É difícil descrever o meu estado de espírito actual.
É uma sensação inexplicável, uma mistura de regozijo e de apaziguamento e simultaneamente de mágoa e aperto. Um pequeno nó no estômago que não se desfaz, uma vontade reprimida de apregoar o meu contentamento descontente.
Estou sentado em frente ao computador e não sei o que fazer com ele, sei que tenho coisas para escrever e não sei por onde começar.
Parece que estou ausente mesmo estando presente.
Na minha cabeça fervilham mil pensamentos, fragmentos de mil coisas. Estou perdido dentro de mim… 
Talvez amanhã já consiga.

Estarei a ficar Cavaco?

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Conto: Neto de um emigrante em Paris! (XXVIII)

Tudo o que sabia de Bordéus era aquilo que tinha ouvido pela boca de outros, nomeadamente do seu professor de Geografia. Mas, logo desde o início da caminhada, ficou fascinado pela sua beleza.
Durante três horas percorreu as ruas desconhecidas com a magia de não saber o que o esperava para lá da próxima esquina. Um espantoso monumento aqui! O rio mesmo ali! Uma praça enorme e com uma atmosfera romântica bem no centro!
Os seus olhos não podiam acreditar no que viam, era tudo tão diferente daquilo que ele tinha visto até aquele dia! Foi apreciando as ruas do centro da cidade com os seus edifícios que não possuíam mais de dois ou três pisos, tão característicos daquela região da costa Atlântica, no sudoeste de França.
Depois admirou o rio Garona, o seu estuário e as suas belíssimas pontes sobretudo a Ponte de Aquitânia que atravessou num sentido e no outro. De repente descobriu, escondido por edifícios da Rue Saint-James o famoso Grosse Cloche de Bordéus, que é um enorme campanário da antiga Câmara Municipal, num edifício que remonta à Idade Média.
Não muito longe dali, Zeferino descobriu o Grand Theatre - Opéra National de Bordéus, que o impressionou pela sua imponência e beleza arquitectónica e que fica quase em frente à principal praça da cidade, numa enorme avenida paralela ao rio Garona.
Ao chegar à Place de la Bourse (Place Royale) Zeferino sentou-se numa esplanada de um dos muitos cafés e restaurantes que a abraçam. Anoitecia e o jogo de luzes que realçavam os traços da arquitectura dos belíssimos edifícios tornou, aos seus olhos, o espaço verdadeiramente imponente. A esplanada formava uma espécie de anfiteatro virado para o rio Garona e de onde podia ver as pessoas passearem num enorme espelho de água que lhe criava a ilusão, assim ao longe, de que estavam sobre a água. Uma impressionante sensação de bem-estar inundou-o! Um ambiente romântico envolvia-o. Só em Paris, a cidade do amor, e com Emeralda a seu lado se tinha sentido melhor.

De repente, reparou num homem e numa mulher sentados mesmo na mesa ao lado da sua. Ela bebia um chá verde e comia meia torrada com doce de abóbora. Ele bebia café simples e comia a outra meia torrada mas com manteiga. Falavam de coisas triviais. Do tempo e da temperatura agradável tendo em conta que se estava na segunda metade do mês de Abril. Dos respectivos trabalhos, monótonos. Das suas vidas passadas mas não do presente, nem do futuro. Encontravam-se em terra de ninguém, num momento fora dos seus mundos, fora das suas vidas. Até que a conversa descambou e prendeu ainda mais a atenção de Zeferino.
– Posso dizer-te uma coisa?
Ele olhou-a, ergueu ligeiramente as sobrancelhas, cerrou os lábios e acenou que sim com a cabeça.
– Podes – reforçou, curioso, mas procurando não dar expressão à curiosidade.
Ela manteve o seu olhar fixo no dele, hesitou à procura das palavras certas e declarou, sem qualquer inflexão irónica: – Pensava que gostavas de mim.
Ele arregalou os olhos por um momento breve, controlou a surpresa e a expressão facial e retorquiu, com um ligeiro sorriso: – Pensavas?
– Pensava – ela reforçava as palavras acenando a cabeça na vertical. – Pensava mesmo, mas agora já não sei.
Ele levou um pedaço de torrada à boca enquanto ela falava, mordeu metade, mastigou e engoliu em silêncio. Ela piscava os olhos duas vezes de cada vez, num tique nervoso que não conseguia disfarçar e bebeu um gole de chá.
– Não me achas atraente? – perguntou ela de chofre, sem se conseguir conter, ainda com a chávena na mão, mas dando a sensação de que se arrependera logo que se ouviu falar.
Ele manteve o ar impassível, o que a irritou, e respondeu sorrindo só com a boca: – Acho-te muito atraente – declarou ele, por fim e arrancou para um discurso quase de fazer chorar as pedras da calçada.
Ela parecia ouvia-lo com muita atenção. De repente interrompeu-o e perguntou-lhe ainda sorrindo: – Sabes do que me lembrei?
Ele ouviu-lhe a interrupção em tom sensual e vendo-a a sorrir, afastar a chávena quase vazia e o prato onde ainda restava um palito da torrada e agarrar na carteira para pagar, apostou no seu melhor olhar de carneiro mal morto, sorriu de viés, como o caçador que sabe que a presa não tem hipóteses de fuga, sussurrou que já estava tudo pago e dobrando-se sobre a mesa para se aproximar dela murmurou insinuante: – De quê, querida, lembraste-te de quê?
Ela levantou-se, pousou as mãos na mesa, aproximou o seu rosto do dele, beijou-o na face, com suavidade e ficou frente a frente, nariz com nariz: – Que tenho mais que fazer, Pierre! Deu-lhe um beijo na outra bochecha e despediu-se: – Adeus.
Ele deixou-se cair na cadeira, ao lado da outra que permaneceu vazia, e ela, agarrando a mala, seguiu sem olhar para trás, dizendo baixinho: adieu, addio, aufwiedersehen, goodbye.

Zeferino sentiu que também se despediam dele, levantou-se tristemente, pagou a sua despesa e regressou ao quarto alugado nessa manhã… 
(continua...)


domingo, 7 de julho de 2013

Por que nunca votarei em gente desta...

Destes dois só me apetece dizer que são aldrabões profissionais na justa medida em que ganharam eleições na base de mentiras e promessas (não cumpridas) ao eleitorado.
São farinha do mesmo saco...
Infelizmente temos cá no burgo muitos mais assim e são quase todos Jotas…
Por que razão em Portugal não se legisla no sentido de punir o político que não cumpre com as suas promessas de campanha depois de eleito?
Por que razão em Portugal não vai para a cadeia o político que utiliza o cargo para enriquecer por meios ilícitos e/ou na base da corrupção?

E este?
Para ajudar à “festa” temos (?) um Presidente da República a quem eu não me atrevo a chamar de palhaço, como fez Miguel Sousa Tavares, até porque não sei se ele terá as competências e habilidades necessárias para exercer tal actividade artística.
Mas, um Presidente da República que, recorrentemente, comete gafes do género: “os cidadões que vivem em Portugal” ou “Nunca o fiz, nem façarei”, etc. etc. e não se demite é porque está gágá, ou choné, ou então não tem vergonha na cara.
Mas, meus senhores, vivemos em Portugal e só por isso é que continuamos a ter este Cavaco que nunca esteve à altura do(s) cargo(s) que ocupa(ou). Ele é, sem dúvida, o principal responsável pela maior tragicomédia a que alguma vez assistimos em tempos de democracia.

Não lhe chamo palhaço mas peço-lhe encarecidamente: - Cavaco, vá para Boliqueime! Vá tratar das couves que é coisa que provavelmente “façará” muito melhor... 

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Conto: Neto de um emigrante em Paris! (XXVII)

Zeferino chegou a Bordéus cansadíssimo. Despediu-se, agradecendo a boleia ao motorista Ricard e ao pai de Lille e foi caminhando, de mochila às costa, pelo centro da cidade, até que se sentou num dos bancos do Jardin Botanique, mesmo em frente da Bibliothèque du Jardin Public e do Muséum d'Histoire Naturelle de Bordeaux e muito perto do Rio Garonne.
Entretanto, já deitado ao comprido no banco, uma rapariga veio ao seu encontro e disse-lhe: - Olá, estás à procura de sítio para ficar? Conheço um sítio muito barato onde poderás descansar muito melhor do que aqui neste banco.
Apesar de não ter planeado tal coisa, decidiu aproveitar a ocasião e respondeu: - Sim, por favor.
Depois de entrar no pequeno quarto, que não ficava muito longe dali, deitou-se na cama e adormeceu de imediato.
Acordou inesperadamente muito antes do que esperara tendo em conta aquilo que o corpo lhe pedira antes de adormecer profundamente.
Ainda sentia a cabeça pesada da jornada anterior (mais de 24 horas sem dormir) e voltou-se demoradamente para o outro lado sentindo o corpo dorido sobre a lisura dos lençóis. Tornou a fechar os olhos voltando a abri-los lentamente numa fina faixa, apenas a linha que liga o sono ao despertar, por onde observava as lâminas de luz que das persianas traziam fatias quase imperceptíveis do dia para dentro do quarto.
Durante os minutos soltos da semi-vigilia, apontamentos vagos, meros fragmentos dos acontecimentos do dia anterior passaram-lhe diante dos olhos.
Rodou o corpo na cama, olhos novamente fechados, arrastando a lembrança incómoda da forma como deixou ir Emeralda e o desespero que então lhe havia tomado todo o ser quando se afastara a fugir e dos dias seguintes em que tudo fizera para dela se esquecer. Por tudo isso e já cansado, num salto em frente e para largar a fogueira de mágoas daquela paixão, se deixara ir com Luísa qual fantoche manobrado pelas mãos de Lille.

Levantou-se, subiu um pouco as persianas afogando em luz o quarto, remetendo os pensamentos para as fronteiras das memórias distantes … lá longe em Vila Flor. E pensou… pensou muito!
Pensou no seu professor de Inglês (que detestava) e que do alto da sua integridade moral, logo que soube do seu namoro com Lena se transformou em polícia fazendo-lhe uma perseguição implacável, quer no Colégio, quer fora dele. E que, a certa altura, teve o desplante de ir dizer ao pai dela que essa relação estava a ser muito prejudicial para ela, que a desconcentrava e que poderia vir a diminuir o rendimento escolar, que até aí tinha sido exemplar.
Pensou ainda no pai dela, que era também guarda nacional republicano (GNR), e recordou o dia em que veio ter com ele no momento em que se encontrava a conversar com um amigo na Avenida Marechal Gomes da Costa e lhe perguntou, num tom autoritário e agressivo:
- Ouve lá, parece que andas a namoriscar com a Lena, é verdade?
Zeferino, tentando aparentar muita calma respondeu-lhe: - e porque me pergunta a mim? Não é melhor perguntar-lhe directamente a ela?
- Olha! Olha-me este! Armado em esperto comigo, é!?
- Não Sr. Sousa, o que acho é que não devo ser eu a dizer-lhe. Deve conversar com a sua filha e ela com certeza dir-lhe-á a verdade! 
- Com ela já eu falei! E de que maneira! A ti só quero avisar-te que se porventura algum dia te encontrar com ela vou correr-te a pontapé! Ouviste? Perguntou com ar ameaçador enquanto o seu colega de patrulha sorria com ar cínico e zombeteiro.
- O senhor está a falar-me como pai dela ou como GNR? Perguntou-lhe Zeferino.
- Porquê?! 
- Porque se me está a ameaçar como cidadão e pai dela então terei de lhe responder e agir do mesmo modo; ao agente de autoridade não posso responder, embora o senhor, enquanto tal, também tenha a obrigação de ser correcto comigo.
É bom lembrar que estávamos no tempo da ditadura e num tempo político em que alguns agentes de autoridade, GNR e PSP, impunham a sua lei à base da força física, sem assegurar os direitos mínimos dos cidadãos.
Recordou ainda que depois desta conversa esteve sem ver e falar com a Lena durante uma semana. O pai dela bateu-lhe tanto e de tal maneira que ela teve que ficar em casa durante sete dias para recuperar dos hematomas e das dores físicas e psicológicas infligidas.
A partir dessa altura passaram a comunicar através das mensagens escritas num caderno de capas pretas, que deixavam entregue, em mão, ao Toninho proprietário da Papelaria Académica. O Toninho era cego mas muito amigo, confidente e conselheiro de Zeferino. Foi o único que o apoiou. Foi também o único a ver como esse namoro era puro e genuíno. Ele recebia o caderno de um e só o entregava ao outro, que por sua vez respondia à mensagem e o voltava a deixar.
Houve um período em que também se encontravam à noite, por volta das vinte e uma horas, quando a Lena vinha à porta de casa receber a Leiteira, que era uma senhora que andava com um cântaro de latão, de porta em porta, a vender leite de ovelha ao quartilho. Zeferino ficava escondido até ela medir o leite e depois de se ir embora lá ia ele namoriscar uns minutos, poucos, mas preciosos.
Numa dessas noites, já em pleno Inverno, estavam a conversar bem no interior do jardim da casa dela. No instante em que ela lhe dizia que fugiria com Zeferino de casa dos pais se ele quisesse e a levasse, o cão dela, o “Rápido”, começou a mexer muito o rabo e as orelhas, dando sinais claros de que o dono se aproximava.
- Foge! É o meu pai que está a chegar! Disse ela muito aflita.
- Mas para onde? Se fujo para o portão da casa até lá o teu pai pode entrar!
Então, sem outra alternativa, Zeferino entrou rapidamente para o galinheiro que tinham construído mesmo debaixo de uma grande cerejeira, enquanto ela se recolhia para dentro de casa. Escondeu-se num dos cantos mais escuros e fundos do galinheiro, mas de forma tão desastrada que algumas galinhas se assustaram e começaram a fazer barulho, batendo com as asas.
Tudo isto no momento em que o Sr. Sousa entrava pelo portão, se apercebia do barulho anormal vindo do galinheiro e dele se aproximava perigosamente!
Zeferino continuava encolhido, sujo, cheio de frio e.. de medo! O “Rápido”, com saudades do dono, a correr do galinheiro para o portão e do portão para o dono, distraindo-o mas não o impedindo de continuar o seu caminho até ao galinheiro para ver o que se passava.
Até que, talvez por influência da estrela polar, saiu de casa a mãe da Lena e o salvou da situação perigosa em que Zeferino se encontrava, berrando:
- Rápido! Que fazes? Pára! Deixa as galinhas em paz! E, virando-se para o marido exclamou admirada: Tu!? Então já vieste hoje? Pensei que o teu turno só acabava à meia-noite!
Logo que entraram para o interior da casa Zeferino saiu do galinheiro muito lentamente e com todo o cuidado para não assustar de novo as galinhas.
Zeferino recordou ainda a última noite em que esteve com Lena neste mesmo local. Os seus beijos sabiam a caldo verde! Mas sabiam tão bem! Enquanto ela lhe dizia: - Vês aquela estrela? A que brilha mais? Virando-lhe o rosto e o olhar para a estrela polar! É com ela que eu falo quando tu não vens ver-me.

De repente Zeferino acordou para a realidade regressando ao presente,  tomou um duche rápido e, esfomeado, saiu para a cidade…
(continua...)


quarta-feira, 3 de julho de 2013

Isso é um disparate .... (!?!?!?????)


Enquanto via este vídeo apeteceu-me trautear (com raiva) esta canção interpretada pelo grande Carlos do Carmo: "Parecem bandos de pardais à solta, os putos, os putos..."
Mas logo de seguida uma voz me gritou cá de dentro: bando de pardais? (...) os putos? (...)  são mas é uma corja de ladrões... de aves de rapina, de aldrabões e... de... e de fdp!!!..." 
E pronto! Parei de trautear e apeteceu-me desabafar. 
Infelizmente fico com a sensação de que só desabafar já não chega... 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Conto: Neto de um emigrante em Paris! (XXVI)

Pois bem... a garota que mais o havia entusiasmado foi provavelmente a única de todas as pessoas daquela sala que não se sentou ao seu lado!
Na verdade nem sequer olhou para Zeferino durante todo esse tempo, o que o deixou, de certa forma, muito intrigado e algo angustiado. Como tinha que ir embora sentia que o tempo para a conhecer estava a passar e era limitado, como se de uma ampulheta se tratasse.
Quando a Lille finalmente chegou ele acabou por perceber que elas eram uma espécie de melhores amigas. Só nesse momento é que teve a oportunidade de a conhecer pois foi-lhe formalmente apresentada. Chamava-se Luísa e… era portuguesa!
A Lille bem tentou dizer-lhe, quando referiu a sua simpatia especial por portugueses, que tinha uma grande amiga portuguesa mas ele, despassarado como era, nem sequer a tinha ouvido com a devida atenção.
Nesse momento e de forma desinibida, porque entretanto já tinha bebido algumas cervejas, teve a oportunidade de lhe dizer que tinha estado a noite inteira à espera que ela viesse sentar-se na cadeira ao lado da sua para a poder cumprimentar e para lhe dizer que estava verdadeiramente encantado com o seu charme e com as boas sensações que ela lhe transmitia... mesmo de longe. 
Luísa, embora agradecendo simpaticamente os elogios, não gostou muito do rumo da conversa pois afastou-se de imediato o que deixou Zeferino desiludido, com um pequeno aperto no estômago e a pensar: - Agora é que está o "caldo entornado"... estraguei tudo, porra! 

Quando eram cinco da manhã pegou na mochila para se ir embora e começou a despedir-se dos poucos que ainda estavam presentes. A Luísa era uma delas e mostrou-se algo atónita. Ele explicou-lhe que estava na hora de seguir viagem e não queria perder a boleia prometida.
Ela, de forma verdadeiramente surpreendente para ele, ofereceu-se para o acompanhar até à esquina da rua Léopold-Thézard. 
E foi assim que teve, muito provavelmente, umas das melhores horas da sua ainda curta vida.
Nessa hora de vida tudo aconteceu de improviso e em turbilhão…
Antes de saírem Zeferino abraçou e beijou Lille, demonstrando-lhe toda a sua gratidão. Ela, com um enorme sorriso e um brilho matreiro nos olhos, respondeu-lhe que tinha sido um prazer e que se tratasse bem de Luísa no tempo que lhe restava da noite, então poderia considerar todas as contas saldadas. Ao dizer-lhe isso passou para a mão de Luísa um pequeno objecto (que ele não conseguiu identificar) dando simultaneamente um pequeno empurrou aos dois num sentido que não era propriamente a porta da rua.
Foi então conduzido para a garagem da moradia que ficava na cave. Aqui chegados, Luísa pegou no tal objecto dado por Lille e que era, nem mais nem menos, a chave da porta de acesso a um pequeno anexo para onde entraram. No interior deste havia um sofá verdadeiramente confortável onde se instalaram e se conheceram melhor… muito melhor! 

No fim, Zeferino olhou agradecido para ela e recitou-lhe:
“Senti-te aqui junto ao coração
e ajudaste-me a extinguir a solidão!
Mataste as saudades de outra pele também macia
 que me aqueceu num comboio e num belo dia…

Luísa sorriu com cara de quem não tinha percebido a verdadeira intenção desta mensagem. Ficou na dúvida se “aquilo” era um elogio, um lamento nostálgico ou um agradecimento.
Saíram e ela teve a gentileza de o levar, sempre de mão dada, ao local da boleia.
Ao despedirem-se projectaram voltar a encontrar-se, trocaram contactos e vários beijos.

Nunca mais se viram...
(continua...)