Pretendo, despretensiosamente, divulgar aqui ideias, pensamentos, acontecimentos, imagens, músicas, vídeos e tudo aquilo que considere interessante, sem ferir susceptibilidades.

Falando de tudo e de nada... correndo o risco de falar demais para nada!


segunda-feira, 30 de julho de 2012

O Grupo dos 4pontocome continua a "turistar"!

Desta vez resolvemos visitar e apreciar, do piso superior de um dos autocarros turísticos descapotáveis, alguns dos principais pontos de interesse da cidade do Porto.
Com a pontualidade característica de todos os elementos do grupo, às 10h 30m, do dia 26 de Maio de 2011, já estávamos todos reunidos no local previamente combinado: o belo Jardim do Morro, em Vila Nova de Gaia.
A manhã estava agradável, serena e tranquila. Transmitia uma sensação de paz enquanto descíamos, a pé, até ao Cais de Gaia e se via o sol resplandecente a criar reflexos de belo efeito nas mansas águas do Rio Douro. Cá do alto mais parecia um espelho a reflectir o casario colorido da zona da Ribeira do Porto e os garridos barcos Rabelos, da marginal de Gaia.
Depois de devidamente instalados no piso superior do autocarro, o red bus, fomos conduzidos até ao centro histórico do Porto para aí apreciarmos os seus belos locais e monumentos. Percorremos todo o Cais de Gaia, atravessámos a Ponte de D.Luis I pelo tabuleiro inferior, passando ao lado da Muralha Fernandina e depois de passarmos o túnel da Avenida Infante D. Henrique, demos de caras com a Igreja de São Francisco e o Palácio da Bolsa, subimos a Rua Mouzinho da Silveira, passámos ao lado da monumental Sé Catedral  e depois pela Igreja de Sto Ildefonso.
Tínhamos a possibilidade de sair e visitar um ou mais monumentos e apanhar o autocarro seguinte mas não o fizemos. Fomos vendo, por fora e com calma, a imponência dos monumentos e a beleza arquitectónica das casas, varandas e janelas de ferro trabalhado em rendilhados pintados com cores fortes.
Passámos pelo espectacular Mercado do Bolhão, contornámos o imponente edifício da Câmara Municipal do Porto em direcção à Torre dos Clérigos e mais à frente à Igreja das Carmelitas. Metemos pela Rua D. Manuel II entrámos pela Rua de Júlio Dinis que nos conduziu até à Praça Mouzinho de Albuquerque (mais conhecida por Rotunda da Boavista), espreitando de longe o Mercado do Bom Sucesso. De seguida passamos mesmo ao lado da Casa da Música e descemos a longa Avenida da Boavista até ao Forte S. Francisco Xavier (Castelo do Queijo), metemos pela Avenida do Brasil, fizemos todo o Passeio Alegre, passámos por baixo da Ponte da Arrábida e parámos na Rua do Ouro, para almoçarmos na esplanada do Restaurante Morfeu na Marginal, onde comemos Cozido à Portuguesa para variarmos pois, na vez anterior, tinhamos aí comido outra das especialidades da casa: Rosbife. É um restaurante que o Grupo 4pontocome costuma visitar com regularidade. Tem um ambiente agradável, come-se bem e tem umas belas vistas para o Rio Douro, Ponte da Arrábida e marginal de Gaia. Para além de tudo isso tem um Chefe especialista na cozinha tradicional portuguesa e (não menos importante :-)) é um grande Benfiquista que me serve de aliado e me ajuda a confrontar o “inimigo”, enquanto saboreamos a sobremesa e tomamos agradavelmente o nosso cafezinho! :-))
A meio da tarde apanhámos o red bus que nos levou ao destino. Neste percurso de regresso fomos passando sucessivamente ao lado (ou próximo) do Museu do Carro do Eléctrico, Igreja de Massarelos, Museu Romântico, Palácio de Cristal, Museu do Vinho do Porto e o Museu dos Transportes e Comunicações.
Chegados ao Cais de Gaia, resolvemos experimentar o novo teleférico que liga a Margem Ribeirinha ao Jardim do Morro, evitando a caminhada íngreme até ao ponto de partida.
Este teleférico serve de promoção da cidade de Vila Nova de Gaia e do seu património arquitectónico. Ao fazermos o seu percurso de 700 metros de extensão e cerca de 65 metros de desnível entre a marginal e o Jardim do Morro tivemos também a oportunidade de apreciar lá do alto as caves do vinho do Porto, o belo casario das duas margens, a beleza da paisagem e do próprio rio com os seus barcos.

E pronto! Depois desta visita guiada por uma das mais belas cidades do Mundo, podem agora ver com os vossos olhos aquilo que nós fomos vendo e fotografando nesse dia, ao mesmo tempo que podem ouvir e apreciar a boa música do Rui Veloso e dos Botequim Fantasma.

 


quinta-feira, 26 de julho de 2012

Da vida activa à aposentação!

Hoje deixo aqui o exemplo de alguém que, depois de um longo percurso profissional de mais de quarenta anos, quis parar de trabalhar mas quer (e consegue) manter-se física e intelectualmente activa, dando razão a quem um dia disse: “a reforma não é terminar uma vida, mas transformá-la”.
Encarou esta mudança como sendo apenas uma fase da sua vida, como tantas outras ao longo da sua existência. Se - para muitos - a aposentação é uma intimidação para a minha cunhada e amiga foi, e está a ser, uma oportunidade. A oportunidade de pôr em prática as habilidades que sempre teve para as artes e poder desenvolver a sua criatividade que esteve adormecida pela luta do dia-a-dia enquanto profissional responsável, como esposa dedicada e mãe exemplar.
Neste contexto, inscreveu-se num Curso de Pintura promovido pela Junta de Freguesia de Valadares e que é brilhantemente coordenado pelo pintor e artista Professor Joaquim Durão.
Frequenta este Curso desde há dez meses com prazer, assiduidade e dedicação, adquirindo conhecimentos e técnicas de pintura necessários para poder, sozinha e com a autoconfiança necessária, pôr em prática a sua criatividade inata e assim explorar ao máximo as suas potencialidades como artista.

Vejam agora os resultados! 

E ... memorizem este nome: Irene Pires.

 
 
 
 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Memória III: A Biblioteca Itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian

É um facto que tenho andado mais virado para a pintura de todo o interior da casa do que para escrita, o que me fez cometer o pecado de andar também mais distante da leitura e até um pouco esquecido desta coisa fantástica que é o bloguismo.
Apesar de normalmente ser um leitor incaracterístico, inconstante, intercalar e variado, sou também um apaixonado e entusiasmado pelas ideias, pelas emoções e pelas revelações que encontramos nas páginas bem escritas de um livro.
E, lá está!... Este gosto pela leitura começou bem cedo, lá longe no tempo e no espaço, no início da década de 60 e… em Vila Flor!
Ainda me recordo que, de quinze em quinze dias, normalmente às quartas-feiras, na Praça da República, estacionava em cima de um largo passeio, mesmo em frente à Casa Africana, um furgão-carrinha Citroen de cor cinzenta, que tinha escrito com letras trabalhadas a preto num fundo branco: Fundação Calouste Gulbenkian-Biblioteca Itinerante. 
Essa carrinha tinha duas portas na parte traseira que se abriam de par-em-par e uma parte superior que abria para cima, para dar acesso ao fantástico mundo dos livros. No seu interior, o Senhor Manuel Curto recebia-nos sempre com um sorriso nos lábios. Ele era  muito mais do que o motorista que conduzia a carrinha onde eram transportados os livros. Era também o bibliotecário que exercia um papel de orientador pedagógico pois tinha a perfeita noção da importância da leitura infantil no desenvolvimento da compreensão da criança leitora e da passagem gradual que requer o encontro progressivo com a obra literária.
Quando se entrava pela primeira vez na carrinha e se dava de caras com o Senhor Manel era certo que, mesmo antes de perguntar pelo nome ele perguntava: que idade tens? Em que classe andas? Só depois ele preenchia a nossa ficha de leitor à medida que nos fazia as perguntas necessárias. 
Só depois de definir muito bem o nosso perfil social, cultural e económico (morada, profissão dos pais, tipo de casa onde vivíamos, irmãos, hábitos de leitura dos diferentes membros do agregado familiar, etc.) é que ele nos conduzia à prateleira com os livros que entendia serem - naquele momento - os mais adequados.
Já nessa época ele tinha a noção exacta de que os diversos níveis de leitura devem ser progressivos, para que, à medida que são atingidos, se obtenha um maior gosto pelo acto de ler.
Ele sabia que num primeiro nível, é importante escolher o texto com o qual a criança vai entrar em contacto. Deve ser adequado à idade, à sua cultura e aos seus interesses. O primeiro sentimento que a criança deve ter em contacto com o texto é o prazer.
Depois de lermos os livros que inicialmente nos indicava e depois de lhe confirmarmos que tomámos consciência daquilo que acabámos de ler ele então deixava que fossemos nós a escolher os seguintes. E assim orientados passavamos da compreensão dos textos para a distinção entre o mundo real e  o mundo dos sonhos e da ficção.
Os mais assíduos e constantes na frequência da biblioteca íamos ultrapassando os vários níveis de leitura desde a simples leitura, à compreensão de textos e à posição crítica perante o que se ia lendo. Para além de satisfazermos a fantasia, íamos criando um mundo rico em possibilidades recreativas e gratificantes, dando entrada aos interesses morais, sociais e técnicos, disfrutando agradavelmente da leitura em função da idade.
Para os miúdos dessa época este serviço que nos foi prestado teve, de facto, uma importância inestimável na aquisição de hábitos de leitura, tendo em conta que não havia outro tipo de bibliotecas e não havia dinheiro para comprar livros. Esta ideia genial de levar os livros a todas as vilas e aldeias rurais de Portugal foi de Branquinho da Fonseca e teve início em 1958.
Eu desfrutei deste serviço de 1961 até 1969, ano em que passei a frequentar a Biblioteca do Museu Municipal Berta Cabral-Vila Flor, devidamente apetrechada pelo seu Director Senhor Raul de Sá Correia a quem presto aqui a minha homenagem pelo excelente trabalho que aí desenvolveu durante várias décadas.


Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.

Castro Alves

domingo, 22 de julho de 2012

Concerto de Aranjuez

Apreciem estas paisagens da Terra e belas paisagens de montanha acompanhadas de música clássica - Concerto de Aranjuez!


O Concerto de Aranjuez é uma composição para guitarra clássica e orquestra do compositor espanhol Joaquín Rodrigo que, apesar de ser cego, foi um dos maiores pianistas de Espanha. Escrito em 1939, é provavelmente o trabalho de Rodrigo mais conhecido, e seu sucesso estabeleceu sua reputação como um dos compositores mais significativos espanhóis do século XX.

sábado, 21 de julho de 2012

Dúvidas que nos perseguem!

A cultura é algo tão abstrato como a escolha do clube de futebol favorito ... os cultos, por si só, seguem linhas próprias de raciocínio, fazem as leituras que consideram mais adequadas e aquelas de que precisam para tirarem as dúvidas que sempre vão surgindo.
Por isso (ou apesar disso), resolvi partilhar aqui estas questões que um amigo me enviou por email.

"Isto" não é cultura! - dirão uns.

"Isto" não  é original! - dirão outros. 

Mas acho curiosas e engraçadas as dúvidas que aqui são colocadas ...- digo eu!

:-))

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Vila Nova de Gaia

Este vídeo que hoje aqui deixo é uma adaptação ao magnífico trabalho efectuado pela portojo, a quem agradeço. 
É uma passagem pelos caminhos e caves de Vinho do Porto em Vila Nova de Gaia e uma pequena amostra do último passeio que dei com o meu pai.
Mostra também a beleza do rio, dos barcos rabelos e da própria cidade de hoje e do passado.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Professor, diz-me porquê

O primeiro ano que trabalhei em Carrazeda de Ansiães (1979/1980) foi para mim um ano de aprendizagem. 
Os alunos eram oriundos, em grande maioria, das classes menos privilegiadas principalmente filhos de pequenos agricultores e de assalariados rurais. Muitos deles, quando chegavam à escola logo no início das actividades lectivas, já vinham cansados por terem trabalhado muito naquele dia nas lides domésticas, nas hortas com os pais ou a levar o gado a pastar. Mas... aprendi muito com eles!
Contava-se que num dos anos lectivos anteriores tinha trabalhado nessa escola uma jovem  professora de Língua Portuguesa, natural de Lisboa, que implicava permanentemente com os alunos devido à sua pronúncia carregada e tão característica dessa região. Até que um deles, mais atrevido, lhe respondeu fazendo-lhe esta pergunta:
- Está sempre a criticar o modo como eu falo e eu não sei falar de outra maneira, mas sabe a senhora professora quantas tetas tem uma vaca?
A professora ficou de tal modo embasbacada que, depois de gaguejar uma resposta qualquer, caiu no ridículo perante a turma pois não soube responder correctamente à questão formulada pelo aluno e (ainda pior) não teve a humildade de o reconhecer!...
Esta história (e outras do género) ensinaram-me que devería, no exercício da minha actividade profissional, ter sempre em consideração (entre outros aspectos) o conhecimento que os alunos trazem de casa, da vida familiar e do seu trabalho para, depois de devidamente enquadrado no currículo, servir de estimulo e motivação pela melhoria do autoconceito desses alunos. Aprendi também que a escola deveria preocupar-se sempre com as necessidades formativas dos alunos tendo em conta as suas características individuais, condições familiares e o meio em que vivem. É errado fornecer-lhes apenas o que eles não querem nem precisam para o seu dia-a-dia.
Neste contexto, quero dedicar aos meus ex-alunos de Carrazeda de Ansiães estes versos escritos em 1946, por Alice Gomes. Podiam ter sido escritos hoje que fariam exactamente o mesmo sentido e teriam a mesma pertiência! 

Professor, diz-me porquê:
Por que voa o papagaio
que solto no ar,
que vejo voar
tão alto no vento
que o meu pensamento
não pode alcançar?

Professor, diz-me porquê:
Por que roda o meu pião?
Ele não tem nenhuma roda
e roda, gira, rodopia
e cai morto no chão ...

Tenho ... anos, professor,
e há tanto mistério à minha roda
que eu queria desvendar!
Por que é que o céu é azul?  
Por que é que marulha o mar? 
Porquê ?
Tanto porquê que eu queria saber!
 E tu que não me queres responder! 

Tu falas, falas, professor,
daquilo que te interessa
e que a mim não interessa.
 Tu obrigas-me a ouvir
quando eu quero falar.
 Obrigas-me a dizer
 quando eu quero escutar.
 Se eu vou a descobrir
fazes-me decorar.

É a luta professor,
 a luta em vez de amor. 

Eu sou uma criança.
 Tu és mais alto,
mais forte
mais poderoso.
E a minha lança
quebra-se de encontro à tua muralha!

Mas...
enquanto a tua voz zangada ralha
tu sabes, professor,
  eu fecho-me por dentro, 
faço uma cara resignada 
 e finjo,
finjo que não penso em nada.

Mas penso,
penso em como era engraçada
aquela rã
que esta manhã ouvi coaxar.
Que graça que tinha
aquela andorinha
que ontem à tarde vi passear!...

E quando tu depois vens definir 
o que são conjunções 
e proposições ... 
quando me fazes repetir
que os corações
têm duas aurículas e dois ventrículos
e tantas, 
tantas mais definições ...
   
o meu coração,  
o meu coração que não sei como é feito, 
nem quero saber,
cresce, cresce dentro do peito  
a querer saltar cá para fora,  
professor, 
a ver se tu assim compreenderias
e me farias mais belos os dias.
(Alice Gomes - 1946)

domingo, 15 de julho de 2012

Memória II: O circo itinerante!

Já tive a oportunidade de falar aqui da forma como determinados factos e acontecimentos ocorridos na juventude de quem (como eu) viveu numa vila do interior de Portugal podem marcar e condicionar a maneira como passamos a olhar o mundo. Ou como ficamos com mais sensibilidade para pormenores da vida que provavelmente não teríamos se não tivéssemos passado por esse isolamento próprio dessas localidades que ficam longe dos grandes centro urbanos onde, normalmente, tudo acontece.
Um dos meus primeiros contactos com a arte e com o teatro foi através do espectáculo circense.
Em Vila Flor, no início da década de 60 e da primavera de cada ano, era habitual surgir por lá o circo itinerante que, para nós crianças da época, era um acontecimento espectacular e maravilhoso. Não é por acaso que o circo é considerado desde sempre como sendo a primeira arte no mundo e são, sem dúvida, as crianças o seu principal objecto.
A presença do circo na Vila era assim motivo para reunir a família e os amigos, fazia a alegria das crianças e agitava a vida social dos mais crescidos. O primeiro circo que tive a oportunidade de ver foi mesmo um circo de rua e, curiosamente, no mesmo local onde também vi, mais ou menos na mesma altura, o cinema itinerante de que vos falei numa das últimas mensagens. 
Recordo-me que nessa primeira vez, enquanto montavam um pequeno palco de tábuas, um dos elementos da pequena comitiva de artistas ía fazendo a apresentação e convidando as pessoas a assistirem ao grandioso espectáculo. Depois de terem o público com um número de pessoas considerado suficiente e formando um semicírculo à volta do palco, os artistas deram início ao espectáculo com pequenas demonstrações de habilidades físicas, de acrobacias e de equilibrismo. O espectáculo continuou com a grande a exibição dos palhaços que deixou toda a gente bem-disposta e com um sorriso nos lábios. Tudo isto ao mesmo tempo que duas raparigas simpáticas contactavam directamente os espectadores convidando-os a adquirir diversos objectos, desde tapetes, a bugigangas, a pomadas e mesmo a medicamentos.
Nos anos seguintes tive a oportunidade de assistir a outros circos de características algo diferentes. Desde logo porque ficavam instalados na Vila por vários meses e se acomodavam em casas alugadas. Depois porque faziam espectáculos diários, percorrendo as 19 freguesias do concelho de Vila Flor. E, porque, ficando por lá muito tempo, acabavam por estabelecer uma interacção positiva com a comunidade local. Foi nessa altura que vi (com espanto e admiração!) algumas mulheres (quase sempre louras e vistosas) a fumar enquanto conversavam com os homens no Café Liz, ou "Café de baixo", porque nessa altura só havia dois :-))), o outro - naturalmente - era o "Café de cima" ou Café Avenida!
Uns anos mais tarde apareceram companhias de circo mais ricas e estruturadas. Montavam o seu anfiteatro circular de lona normalmente na periferia da Vila e num espaço de terreno livre e amplo (muito próximo do Hospital). No seu interior, para além do palco, montavam as bancadas para o público e um corredor que circundava o palco e que dava acesso à porta de entrada onde também se adquiriam os bilhetes de ingresso. No exterior, e em torno do espaço ocupado pela lona, dispunham os camiões de transporte do material; os camiões com os animais amestrados (cavalos, leões, cobras, etc); os veículos ligeiros e as autocaravanas que serviam de residência a todos os intervenientes no espectáculo, de forma a impedir a aproximação de estranhos.
Foi assim que conheci por exemplo o Circo Mariani e o Circo Cardinali e assisti a espectáculos de ginástica, equitação, acrobacia, equilibrismo, malabarismo, ilusionismo, animais amestrados entre outras habilidades. Foi aí, enquanto decorria o espectáculo, que comi (pela primeira vez) pipocas e algodão doce!
Estas companhias tinham também a preocupação de interagir com a comunidade local oferecendo espectáculos especiais para os alunos de todas as escolas e níveis de ensino.
Para além das suas actividades de divertimento e de domínio artístico do próprio corpo, demonstravam ainda uma enorme capacidade de improvisação e da piada do espontâneo. Com tudo isso tiveram, a meu ver, um papel pedagógico importantíssimo de promoção e divulgação da cultura para os jovens da minha geração. 
A forma competente e inteligente com que adaptavam os seus espectáculos ao gosto da população local e procuravam inclusivamente conhecer figuras locais típicas e populares que depois recriavam e imitavam, motivaram a minha admiração e meu profundo reconhecimento. Fazem parte de mim e das minhas memórias e, como disse no início, marcaram a minha forma de olhar para o mundo passando a dar o devido valor a este tipo de arte.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Cortejo Etnográfico - Vila Flor

Acho que foi Albert Einstein que disse: “pode ser que um dia nos afastemos... mas, se formos amigos de verdade, a amizade nos reaproximará”.
Isto a propósito de um amigo de longa data que, na sua qualidade de Presidente do Conselho Directivo da escola onde trabalhávamos, me disse um dia que a verdadeira amizade é aquela que também nos permite dar, ao amigo, um horário com aulas ao sábado até às 13 horas e 20 minutos, desde que fosse para se livrar de reclamações daqueles que não eram seus amigos. O verdadeiro amigo iria compreender!
E eu tive que compreender até porque vivia na mesma rua da escola, ouvia a sua campainha desde o interior do meu quarto e via, da janela do mesmo, a sala onde iria estar a trabalhar dentro de 1 ou 2 minutos :-))). Entretanto trabalhavam nessa escola colegas que iam passar o fim-de-semana a casa e junto da família a 200, 300 e mesmo 400 km de distância. Era justo que se desse a esses colegas a possibilidade de terem um fim-de-semana prolongado, em detrimento de quem vivia ali tão pertinho.
Este sentido de justiça, o seu feitio bem-disposto e o seu ar de rezingão fizeram com que nos tornássemos amigos e tivéssemos convivido durante muitos e muitos anos. E, claro, tinha de ser (é o meu castigo!) mais um doente do FCP com perfil para se integrar nos estágios do grupo 4pontocome :-)))
Entretanto as circunstâncias da vida fizeram com que cada um de nós, com as respectivas famílias, seguisse o seu caminho. É aqui que vos remeto para o 1º parágrafo!...

Ontem tive o prazer de falar com ele ao telefone e dele receber, por email, um trabalho excepcional que produziu nos idos anos 80, do século passado.
Em síntese, ele apresenta o Cortejo Etnográfico inserido nas comemorações do 7º centenário do Concelho de Vila Flor, no dia 23 de Agosto de 1986. É antigo, mas está bem feito e continua actual, porque apresenta a participação das várias freguesias do Concelho, mostrando a sua cultura e as suas tradições seculares.
E aproveitando também aquilo que ele diz: “para que a memória e a tradição nunca se apaguem…” aqui vos deixo, em forma de vídeo, o trabalho que ele realizou com tanta paixão e qualidade.


 

Reparem na locução e na forma correcta da sua dicção! Digam-me se, para um amador, não é perfeita a forma de dizer as palavras e as frases do amigo "Manel" Vilares!

terça-feira, 10 de julho de 2012

Memória I: O cinema itinerante!

Para quem viveu a infância e a sempre difícil fase da adolescência numa pequena vila do Nordeste trasmontano ficam marcados na memória alguns factos e acontecimentos que nos acompanham a vida inteira.
Nesse tempo não se viajava, não se conheciam outros lugares, outras culturas e outros mundos. Mas foi o tempo em que apareceu por lá o cinema, a televisão a preto e branco,  e o teatro que se fazia na Casa do Povo, aos fins-de-semana, com os menos envergonhados a serem ensaiados pelo sacristão, que por sua vez era treinado e ensinado pelo senhor padre.
E sonhava-se. Sonhava-se ter, sonhava-se ser. Sonhava-se muito. E sobretudo trabalhava-se mais, muito mais.
Os acontecimentos tinham outro peso, outra garantia de prazer ou de dor. Mas que trazem pensamentos e recordações que nos fazem sorrir! Sobretudo quando assim vistos à distância de cinco décadas e à luz das grandes transformações a nível social, cultural, económico e tecnológico que entretanto ocorreram.
A vida nessa época acontecia com muita tranquilidade e qualquer acontecimento que fugisse à rotina provocava tal reboliço que era transformado num epifenómeno digno de ser visto e comentado por toda a população.
Um dos fenómenos mais falados e comentados aí pela segunda metade da década de 50, foi, sem dúvida, a oportunidade de se ver o cinema pela primeira vez.
Normalmente aos sábados, após o pôr-do-sol, as pessoas iam-se juntando na Praça da República, em Vila Flor, mesmo ao lado esquerdo da Casa Africana e do lado direito da Ermida do Senhor Santo Cristo da Agonia, e esperavam pacientemente que a máquina de projectar ficasse devidamente montada e preparada para emitir as imagens no pano branco (que servia de tela), previamente colocado de encontro ao muro da casa do Assis.
Era o chamado cinema itinerante que levava a população à rua e provocava normalmente um debate após a projecção. As pessoas simples, de forma aberta, transparente e emotiva, partilhavam os seus sentimentos que haviam sido despoletados pelas imagens a preto e branco que acabavam de ver no filme.
Foi aí, por esses tempos e em circunstâncias semelhantes, na Casa do Povo de Vila Flor, que muitos de nós vimos, com espanto e admiração, alguns filmes do célebre actor mexicano Cantinflas, do cantor e actor espanhol Joselito e da famosa actriz espanhola (e bonita) Marisol.
Como disse atrás, nesse tempo não se viajava muito e as "coisas" tinham de vir até nós aplicando-se o ditado antigo "se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé." Este tipo de cinema itinerante foi uma forma eficaz e solidária de também se levar educação e cultura até às zonas mais interiores do país. Com as discussões que se promoviam após a exibição dos filmes foi possível (para além do despertar para esse mundo fascinante do cinema), a muitos de nós, o desenvolvimento de capacidades e competências, nomeadamente a atenção, a memória, o raciocínio, o saber ouvir, o saber falar na sua vez e o saber argumentar, entre outras.
Diferentes tempos! Em que havia menos conhecimento, menos riqueza material, menos conforto e menos tecnologia mas em que havia mais descoberta, mais solidariedade, mais partilha e mais convívio social.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Licenciaturas Relvas!

O ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, obteve a  licenciatura em apenas um ano lectivo, tendo feito exame com aproveitamento apenas a quatro disciplinas.
A Universidade Lusófona, confrontada com esta questão, veio de imediato esclarecer que tal aconteceu por reconhecimento da competência profissional do Sr. Miguel e que, todos os casos são analisados do mesmo modo e individualmente.
Vai daí ... ZéZé Camarinha puxa do seu curriculum vitae (enriquecido no convívio com turistas estrangeiras nas praias, motéis e hotéis do Algarve) e dirige-se à dita universidade onde obteve a equivalência ao Curso de Relações Internacionais! :-)))
Parece que a mesma faculdade está a estudar a hipótese de lhe dar também a equivalência ao Mestrado em Turismo pelo seu trabalho meritório na promoção da região algarvia e do macho latino!...
 Não é fantástico?

sábado, 7 de julho de 2012

O Glorioso

Hoje, e especialmente para os meus amigos do grupo 4pontocome, deixo aqui este video. 
Vejam, ouçam e empolguem-se !.... 
:-))))

  

sexta-feira, 6 de julho de 2012

A cabritinha!

Nas viagens do Grupo dos 4pontocome para além de se conviver, comer e beber também se ouve música. 
E quando a viagem se faz no carro do Rogério então é que nunca falta a boa música popular portuguesa!
Deixo aqui uma das suas últimas descobertas.


Apreciem a qualidade da letra, a harmonia da música e a beleza das imagens deste vídeo!...  :-))

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Finalmente!... Acabou a guerra entre Castelhanos e Portugueses :-))!

Sempre ouvi dizer que "de Espanha, nem bons ventos, nem bons casamentos".
Nunca entendi muito bem este adágio popular até porque sempre apreciei as mulheres espanholas. Normalmente são “giras”, divertidas e cuidam muito bem da sua imagem.
Está bem que em termos históricos, nós portugueses, até temos algumas razões de queixa pois ao longo dos tempos sempre tivemos que travar batalhas ferozes com os poderosos e numerosos exércitos Castelhanos. Mas, caramba, também segundo a história (ou a lenda, em alguns casos) sempre ganhámos!... Sempre defendemos bem aqui o nosso rectângulozinho, se extrairmos o tempo dos Filipes I, II e III. Para o provarmos até temos a muito nossa e eterna heroína: a Padeira de Aljubarrota :-)))
Por sua vez, do lado de lá, os vizinhos espanhóis, sempre nos olharam um bocadinho de lado e também têm os seus adágios populares sobre nós. Ouvi um deles na longínqua década de 70 que me pareceu nessa época demasiado ofensivo e que dizia mais ou menos isto: “ Portugués que no mear a la entrada, caga a la saída. En otras palabras: siempre es una mierda”.
A primeira vez que ouvi esta música Perdóname, cantada por um espanhol (Pablo Alborán) e uma portuguesa (Carminho), para além de todas as emoções que ela me transmitiu, pela harmonia dos dois cantores e pelo sentimentalismo que transmite, pensei: pronto, acabou a guerra entre Castelhanos e Portugueses!
De facto, foi necessário que estes dois cantores se juntassem e produzissem este extraordinário trabalho musical para alguém demonstrar aos políticos de ambos os lados que é possível, aprendendo com os erros do passado, juntarmo-nos e chegarmos também a resultados económicos e sociais positivos para ambos os povos.

Foi toda esta mistura de ideias e de sentimentos que esta música me transmitiu!
A harmonia das duas vozes, combinando os dois idiomas, faz-me gritar: Viva a Península Ibérica!...  
     

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O tempo … e o regresso!

O relógio da sala tira-me, mas também me traz, o presente. 
Esse som vindo de muitas gerações faz-me pensar. Traz-me à realidade. Maldigo o relógio. Maldigo o tempo. Brado contra a realidade do meu tempo actual. Tento retornar, mas a vida insiste em me chamar. 
Atendo o telefone com voz de muitos anos atrás. Do outro lado o presente intimida-me. Chegará a hora de recomeçar de onde parei sei lá quantos meses atrás. Ou anos?
 
Ao sair de casa o velho relógio marca discretamente os segundos. Respiro fundo e saio. Faço-me à vida. Mas para onde vou? Será que é o meu regresso? Não sei quando será o regresso. Sei que será um regresso tímido mas orgulhoso, positivo mas com receios, atrevido mas com medos, crente mas nervoso...
Sei que vou regressar... sinto que a minha vida profissional (e automaticamente a pessoal) vai melhorar. 
Sei que tudo fiz para melhorar a situação, e por isso serei recompensado... é a lei universal... nada pode dar errado, pois não?...
Esse não será só um regresso, será o regresso!

terça-feira, 3 de julho de 2012

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Será amor ou paixão?

Uma das acções mais preponderantes do ser humano é, ou deveria ser sob o meu ponto de vista, a busca da felicidade. A realização do homem só se concretiza nessa busca permanente.
Nessa procura constante surgem inevitavelmente os sentimentos. Sobretudo a amizade, o amor, a paixão , etc.
Mas por vezes baralhamos ou confundimos tudo. Mesmo as coisas mais simples nós confundimos. 

Digo isto, porque uma das discussões mais recorrentes é, sem dúvida, a diferença (ou semelhança) entre aquilo que é o amor e a paixão. Já na minha adolescência esta conversa era uma das mais frequentes entre os meus companheiros e amigos.
Sempre entendi que amor é um sentimento desinteressado e magnânimo que tende a ser definitivo. É um sentimento metafísico porque transcende a razão. Por outro lado o amor anula o egoísmo, o orgulho, a posse, a guerra…

Para mim também sempre foi claro que (sendo semelhante ao amor nalguns sintomas) a paixão é algo de muito mais “terreno”, de muito mais sujeito aos caprichos da natureza humana. A paixão exige a presença física, a “posse”, e evolui para estados de agressividade quando não satisfeita. A paixão é temporária. Mais tarde ou mais cedo, acaba. Pode resultar em profunda amizade, uma forma suave de amor… ou então, resultar em coisa nenhuma. É um estado passageiro de euforia em que a natureza suprime os defeitos do outro, intensifica o desejo, e promove a harmonia de modo a permitir um período de adaptação de um casal entre si. Para quem o aproveita bem, resulta bem. Para quem não o aproveita bem, resulta mal. Aqui se incluem todos os casos de casais que começam com “um grande amor” e acabam sem se reconhecer, à porrada, ou a digladiar-se pelas razões mais absurdas.

E agora, aligeirando o raciocínio e a propósito deste vídeo, que me divertiu imenso, podemos fazer aqui um pequeno exercício de cogitação etológica. 
  • O que vemos neste vídeo será amor ou paixão?
  • Como nem o macho nem a fêmea partiram para a agressividade podemos dizer que foi amor?
  • Mas o macho não ficou eufórico? E a euforia não é um estado passageiro de paixão?
  • Ou “isto” foi apenas um acto instintivo de procriação? 
  • Será que esta falta de diálogo (no depois) com a parceira também é comum aos humanos?